quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pequeno Ser Alienado do Nosso Brasil!

 A estupidez está sempre ao alcance de todos. Mayara Petruso, patricinha paulista, estudante de Direito, saiu do anonimato para fama, via Twitter, graças a um coice na inteligência nacional. Indignada com a vitória de Dilma Rousseff, a moça disparou este petardo: "Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado. Tinham que separar o Nordeste e os bolsas-vadio do Brasil (...) Construindo câmaras de gás no Nordeste, matando geral". No Facebook, a burrinha racista se atolou um pouco mais: "Afunda, Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar bolsa 171". Mayara já perdeu o emprego no escritório onde trabalhava e sofrerá ação judicial protocolada pela OAB.

Alguns jovens universitários paulistas têm revelado um grau superior de idiotice. Depois da turminha que hostilizou uma guria por causa da sua minissaia, apareceu o bando do "rodeio das gordas", propondo tratar meninas obesas como animais. E agora entra em cena a tal Mayara. O escândalo maior é imaginar que isso representa uma opinião média difundida na Internet. Como será que a mulinha Mayara explica a vitória de Dilma em Minas Gerais? Achar que as ajudas sociais são incentivos à vagabundagem é típico de uma elite primitiva ou de uma classe média ignorante. Qualquer país civilizado, a começar por França, Alemanha, Inglaterra e, evidentemente, países escandinavos, oferece mais ajudas sociais que o Brasil. Não adianta ir à Europa só para comprar bolsas Vuitton. É preciso espiar o cotidiano.


Quem não recebeu e-mails dizendo que Dilma não podia ser candidata por ter nascido na Bulgária? Quantos analistas têm por aí sugerindo que os nordestinos são subeleitores que votaram com o estômago? Quando um empresário escolhe um candidato seduzido pela possibilidade de redução de impostos, o que é legítimo, não se trata de voto por interesse? Não é voto com o bolso? Quando ruralistas votam num candidato na esperança de conseguir mais incentivos, o que é comum, não é voto interesseiro? Mayara não deixa de ser o produto de uma estratégia perigosa, a divisão ideológica entre bem e mal. Foi essa perspectiva, cara ao vice Índio da Costa, que José Serra adotou. A revista Veja e o jornal Estado de S. Paulo deram aval a essa idiotice retrógrada. Uau!

O PSDB, que nasceu pretendendo ser moderno e racional, podia mais. Veja, que se acha mais moderna do que os modernos, acabou por produzir leitores Mayara. Isso não tem a ver com partidarismo como imaginam os mais simplórios ou ideológicos. Eu jamais terei partido. Meu único capital é a independência selvagem. Sou a favor do voto de castidade partidária para jornalistas. Tudo pela liberdade de dizer que quem acha o Bolsa-Família um incentivo à vadiagem pensa como Mayara. Esse foi o principal erro tucano na campanha eleitoral: ter guinado à direta para tentar seduzir as Mayaras, que arrastaram um intelectual progressista como Serra para o reacionarismo rasteiro do Estadão e da Veja. Mayaras, nunca mais!
 
Juremir Machado da Silva, Correio do Povo, 05/11/2010


----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


É incrível pensar que em nosso país marcado por todos os tipos de relações desiguais, como exploração e exclusão, e ainda, tendo passado pela dominação de uma ditadura, ainda tenha tantos jovens alienados quanto essa Mayara. 
Ela em sí é só um reflexo de muitos e muitos outros jovens que no fundo não conhecem e não entendem o processo histórico de seu próprio país. Jovens que não querem saber em como vivem as classes baixas e tem uma ideia extremamente estereotipada e ainda os qualifica como vilões do seu próprio percurso histórico. 
Eu mesmo, dentro e fora da sala de aula já escutei barbaridades de jovens que "acreditam" que só com uma nova ditadura o país "irá crescer", ou que o nazismo na verdade não foi tão duro quanto parece ou contam, ou que ainda as favelas deveriam sumir para estruturar outra sociedade sem pobres. 
Realmente, não sei como isso continua acontecendo. Penso em várias possibilidades de diversas formas do conhecimento, mas não encontro respostas tão exatas. 
Acho que a mais adequada é essa mesmo: PURA ALIENAÇÃO, de sí mesmo e de sua história. Pura introjeção da alienação dos pais e de uma classe alta ou média que não sabem o que fazem ou dizem e apenas visam seu crescimento financeiro, mesmo que para isso gerem mais exclusões. 
Também não faço parte de nenhum partido, votei em branco sim mas é inegável que essas eleições foram as "eleições das classes". Serra e o PSDB representam a direita, a máquina limitadora de projetos sociais, as privatizações e o constante crescimento de quem? do empresário. Dilma e o PT representam a esquerda, em favor das classes mais necessitadas, do fortalecimento interno e etc...
Se fizermos uma análise regional dos votos e pela vitória de Dilma, poderemos verificar que sim, foram as eleições das classes, afinal todos nós votamos a partir de nossos interesses, sejam estes financeiros, ideológicos e por aí vai... Mas é um processo democrático importante para nosso país. 
E acima de tudo, é extremamente fundamental entender o pq chegamos aqui da maneira como chegamos. Não tem mistério. Informe-se!

Daniel Paiva 






 



Um comentário:

  1. O mais triste é saber que essa é a realidade como como pensa uma camada muito importante da sociedade: a classe média. A classe que tem acesso a informações e a história do nosso país e que deveria preocupar-se sim em ajudar as classes baixas a emergir, e não somente se interessar com sua ascenção na pirâmide social.
    Não só a classe média e as classes mais altas, mas - incrivelmente - até mesmo os mais pobres são influenciados pelas manobras eleitoreiras dessa direita asquerosa que temos no Brasil. Isso devido, claro, à imprensa reacionária brasileira que faz questão de apoiar as classes dominantes.
    Essa é a nossa realidade. Temos, pois, que mudá-la. Esclarecer essa juventude que só têm "contato" com a realidade de seu país através da dita imprensa: assitindo Jornal Nacional e lendo a revista Veja (isso, ressalvo, ainda para os poucos que se interessam minimamente por política). Precisamos de força para a mídia independente, de modo a salvar a juventude desse abismo obscuro da ignorância e da alienação em que hoje se encontram aqueles que são "o futuro da nação".

    ResponderExcluir