Em época de Copa do Mundo, há um esporte que anima mais uma parcela da torcida brasileira do que o próprio futebol: torcer contra a Argentina. Torcer contra é um costume arraigado do qual devemos – mas não conseguimos – nos afastar. É assim que se dá na rivalidade Gre-Nal. Como o clássico do continente é verde e amarelo x azul e branco, o mesmo comportamento é transposto para uma guerra entre nações.
Se estivéssemos falando de um comportamento natural do torcedor brasileiro poderia até ser aceitável. Mas não é. O torcer contra a Argentina vem sendo fomentado nas manchetes da imprensa e, especialmente, pela publicidade que trata nossos vizinhos como se fossem uns idiotas. Não o são. Desde quando dia de jogo da Argentina é dia de secar? Para mim, não. Nem mesmo o passado de Maradona justificaria.
Será à toa que levas de brasileiros lotam os restaurantes de Buenos Aires atrás de carne de qualidade? Gostamos ou não dos argentinos? Não é à toa que consumimos cada vez mais os vinhos produzidos em Mendoza. Somos todos latino-americanos. Todos irmãos. Então, por que torcer para países distantes como Nigéria, Coreia do Sul ou Grécia se posso torcer pelos meus vizinhos? Além do Brasil, nesta Copa do Mundo torço por Uruguai, Paraguai, Chile e Argentina.
Na Copa de 2006, estava em Buenos Aires. Uma grande experiência. Sentado em um café da Corrientes, vesti uma camisa da seleção de rúgbi argentina e vibrei com uma goleada de 6 a 0 sobre Sérvia e Montenegro. Fui bem recebido no meio da torcida. Gostaria de seguir frequentando ambientes como aquele sem a hostilidade que estamos tentando agora impor. E não me lembro de ver nos comerciais da televisão de lá alguma agressão a brasileiros.
A doutoranda em Psicologia Social pela PUCRS, Carla Albert, é argentina e vive no Brasil há 22 anos. Ela compara o que está sendo feito por aqui com seus compatriotas à prática do bullying. Trata como um incentivo à fobia. “Se mudássemos os argentinos dos comerciais por gays, negros, gordos ou loiras, isto não configuraria uma agressão à dignidade?”, questiona. E ela destaca termos agressivos e pejorativos que são utilizados em um comercial de cerveja. Termos que seriam inaceitáveis se estivessem na língua portuguesa.
Vamos torcer contra os argentinos na Libertadores ou então no momento em que enfrentarem o Brasil em qualquer etapa de qualquer torneio. Mas este torcer contra não pode vir carregado de hostilidade. O Brasil vive hoje um melhor momento econômico do que a Argentina, mas que não permite que nos inflemos com uma arrogância inaceitável. Somos irmãos e somos parceiros. Jamais inimigos. Que ganhe o Brasil. Se for sobre a Argentina, melhor. Mas sempre com respeito. Estamos pecando.
*Texto de André Machado, retirado do blog "Circulo Argentino 25 de Mayo".
*Fonte Original: Zero Hora
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