terça-feira, 14 de setembro de 2010

Deus.Quem.com?

Semana passada fui assistir ao filme “nosso lar”, e confesso que achei bem interessante. Apesar de não acreditar fielmente na noção de deus paterno (cristão) ocidental, e no que pregam a maior parte das religiões, o filme e a noção de caridade, doação e compaixão existentes no espiritismo, são louváveis. Além de todas essas características, o filme conta a história de um homem extremamente fechado em seu mundo racional e obvio, que tem seu “despertar” consciente sobre a existência, quando desencarna.
Quando me refiro a não crer no deus paterno, pintado e reproduzido pelas igrejas e grandes massas, não significa que creio que a vida seja algo passageiro, fruto da mera sobrevivência da espécie. Penso que seria assim, uma maneira bastante racional e esquálida de pensar o “ser humano” e principalmente, “a condição humana”.
Geralmente, perceber “isso” a que chamam de deus como algo que não está dissociado de nós e de tudo o que existe, seja um tijolo ou um tigre, e compreender que noções de tempo, de hierarquia, de regulação e de relações de poder, são conceitos humanos e não advêm do bom velinho. É dizer, não acredito que deus seja essa “pessoa” que está longe de nós, pobres mortais, em seu trono celestial, mandando milagres e punições a quem lhe respeita ou corrompe com seus mandamentos. Não posso imaginar essa centelha vital e complementar da existência de tudo e todos como sendo a figura exata do homem (deus?), para mim, é algo que está fora da capacidade projetiva de grande parte das pessoas, já bastante alienada nessa figura moderadora.
Penso nessa energia distribuída em tudo o que existe (de novo, seja um tigre ou um tijolo, um pensamento, a fala e tudo mais que se possa descrever ou não). Por isso, para muitos, dou a  impressão de ser ateu, para outros não. A mim mesmo, pouco importa o rótulo, pois apenas não tenho a mesma visão ordenada sobre essa questão como a maioria tem.
A percepção de “experiência vital” que se tem ao buscar e encontrar outra noção e significado, sejam esses quais forem, é sempre um passo importante na vida de alguém. C. G. Jung chamava esse processo pessoal de Individuação (e não individualismo).
Assim sendo, dessa busca e experiência que, diga-se de passagem, no meu caso foram bastante pessoais, mesmo participando de grupos específicos em algumas ocasiões, decorrem minhas críticas sobre as religiões e como algumas pessoas inseridas nessas religiões se utilizam de normas, bastante humanas e reguladoras para manter seus fies sempre de orelha em pé aos seus dogmas.
Ainda para C. G. Jung, a religião é definida como: “consideração e observação cuidadosas de certos fatores dinâmicos concebidos como ‘potencias’: espíritos, demônios, deuses, leis, ideias, ou qualquer outra definição dada pelo homem a tais fatores...”.
Minha curiosidade e interesse pelo estudo das religiões comparadas apontam para uma questão importante, a compaixão. Praticamente todas pregam a compaixão e o amor ao próximo como conduta para um bom convívio e até para uma futura ascensão espiritual.
Deixo então a pergunta : Por que, de maneira geral, somos tão mesquinhos e individualizados no dia-a-dia? Falta deus ou humanidade em nossa sociedade?


Daniel Paiva.

Fonte bibliográfica: C. G. Jung. Obras Completas, vol. XI/1. Petrópolis: Vozes. 1978, par. 8.

2 comentários:

  1. Falta humanidade. Aliás, acho que a palavra "humanidade" não poderia ter o sentido que tem, já que, nós sendo humanos, não distribuímos tanto amor e compaixão que a palavra "humanidade" prega.

    Então nos falta amor. Já que com ele, vem tudo de bom.

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  2. Pois é. Interessante. Mas pergunto, será que falta amor em sí ou a falta a consciência do amor?(e não me refiro ao amor idealizado) Pq acredito que temos sim a capacidade de amar, mas não sabemos lidar com isso muitas vezes...
    é um debate interessante sem dúvidas...

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